Azul e Vermelho

Sonhei que você me dizia que tinha começado a gostar da cor vermelha. Achei singelo. Essa tentativa de reparação da minha mente. É sempre uma trinca, você sabe, nesse frágil ego humano, essa despreciação do que somos. A gente teve um papo legal sobre isso. Sobre como nos vemos e como somos vistos. E os entrelaços de ambos. Depois do nosso encontro, você descreveu a minha pessoa com palavras estridentes: “Uma panela quente /Águas agitadas /Algo agudo”. Achei curioso. Quando você me perguntou a minha cor favorita, eu disse: “Depende para quê. Vermelho, por exemplo, é uma cor que me identifico”. Prontamente você disse: “É uma cor aguda né.” É.

Você disse que as minhas águas pareciam querer devorar você. E isso te assustava. Era invasivo. Você disse. Esse meu torpor diante de ti e suas águas calmas e azuis. Eu, sou tempestade. Sobre você.

Ainda dói. Tudo isso. Menos que ontem, mais que amanhã. Mas dói. Esse lugar errado que me vi. Esse ser errado. Sou assim? Fui assim? Sou como você me vê? Ou é só desencontro? Dissonância? A gente se deu tão bem. Não calamos a boca por um segundo. A gente tinha tanto sobre o que falar. Nem sei sobre o que. Sobre tudo que não se fala com ninguém. Algumas coisas que você dizia eu queria ter anotado. Como fazer parte do divino mas não ser o divino.  Eu me emociono lembrando disso, agora. Dessa conexão, dessa encontro, dessa troca. Encontrada, perdida. Breve. E do colapso disso. Nessa humanidade espinhosa que somos.

Após o nosso encontro, eu escrevi um texto. Você não quis ler. Eu quis te ligar. Você não quis atender. Eu quis te ver de novo. Você me mandou embora. Dizendo todas essa palavras pontiagudas. Não meu bem, não é que te entendi errado. É que eu te entendo bem.

Desculpa colocar tudo isso em palavras. É que aprendi a conversar comigo assim. Explicando tudo aquilo que não entendo. Mas queria, queria entender.
Queria ser menos intensa? Sou intensa? É clichê me dizer assim? “A culpa é da intensidade”. Rimos. Ainda rimos? Queria ser mais parecida com você? E menos comigo? Às vezes. 

A gente nem conseguiu ver o por do sol juntos. Aquele céu vermelho invadindo, escurecendo, o dia azul.
Estava chovendo