5 Anos

“Tidal waves don’t beg forgiveness / crashed and on their way”.

Em Dezembro eu completo cinco anos vivendo no exterior. Do Canadá à Escócia à França, com uma brecha de três meses tocando nas ruas da Espanha e de Portugal, aqui estou. É difícil processar tudo isso. Ou impossível. Nada foi muito planejado. Tudo foi muito almejado. Parafraseando Lispector:” minha coragem é de um sonâmbulo que só vai.” Em cada uma dessas mudanças, poucas certezas e muitos sonhos. Já aprendi que a vida é tentativa. E muita pouca coisas é irreversível. Já aprendi que vai ser uma mescla de bom e ruim. Quase que equivalente. Já aprendi que tenho esse dom intrínseco de contar anedotas com a minhas próprias histórias, explicando, resignificando, honrando meus acontecimentos e desacontecimentos. Já aprendi a confiar e a me resignar, compreendendo que quase nada entendo ou controlo. E está tudo bem. Já aprendi que o lugar externo é só um lugar. A minha manutenção interna é o meu bem-estar. Já aprendi o que funciona comigo. Como funciono? Quietinha na minha casa entre velas, incenso, cristais e música. Não gosto muito de ver muita gente. Mas gosto, gosto, de me conectar profundamente com uma pessoa de cada vez. Gosto do diferente. Seja clima, língua, paisagens. Quero ir para o Ártico e para o deserto. Quero continuar querendo coisas. Não com a ânsia de conseguir mas com a motivação de procurar, fazendo disso movimento. Quero cada vez mais ser melhor do que fui ontem. Sofrer melhor, amar melhor, viver melhor. Sem a frustação da busca de ideais inatingíveis. Mas com a humildade de me dizer que pouco sou, pouco sei, e está tudo bem. Quero aprender, quero saber, quero crescer. No meu tempo.

A minha primeira mudança, para Montreal, surgiu do plano de voluntariar na Grécia com refugiados. A vida costuma ser assim né, esse ligar misterioso de pontos. Esse tatear. Entre a ida para Grécia e a partida para Montreal, muita coisa aconteceu. E é curioso, quase estranho, estar hoje aqui, em uma vila remota na França trabalhando com refugiados. Não foi em 2017, não foi na Grécia. Foi no tempo certo e no lugar certo. Coisas que a Aline de cinco anos atrás jamais poderia compreender, ou ser.

Seria redundância dizer o quão -absurdamente- difícil foi tudo isso. E quantas vezes achei que não conseguiria. Talvez em casa mudança, achei que não conseguiria. Entre medo, solidão, cansaço. Entre barreiras instransponíveis. Entre a hostilidade de ser estrangeiro. Entre saudade, distância, escolha. É claro que há uma romantização inevitável sobre a “vida no exterior”. Pois as pessoas ligam isso ao turismo, não à imigração. Ou sei lá. Nunca alcançaremos a realidade alheia, afinal. Pergunto-me se as dificuldades afinal não seriam semelhantes se tivesse permanecido no Brasil. Nessa equivalência que a vida costuma ser. Acredito que sim. E talvez seja exatamente nessa dificuldade que o formidável surge. Assim, aos poucos, imperceptível durante grande parte do processo.

Andei pensando bastante no conceito de super-homem de Nietzsche nesses dias.
“o sofrimento não inviabiliza mas potencializa”.

Sempre quis viver grandes aventuras e expandir o meu senso de realidade.
Agradeço, muito, por tudo.